Sentir&Pensar

Luiza Luka
2 min readJun 24, 2019

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O ser-que-sente é constantemente colocado como antagônico e inferior ao ser-que-pensa. O ser-que-sente é visto como impulsivo, como descontrolado e até como maluco. Não se pode demonstrar que se está sentindo, porque é sinal de fraqueza. Não se pode chorar no trabalho, na rua, no restaurante, na frente “dos outros” que é feio. É coisa de gente fraca! E ser fraco, é ruim.

Talvez por isso a gente nunca espere a resposta da pergunta-educação “Está tudo bem?”. Talvez por isso a resposta seja (quase) sempre “hurum e você?”, outra pergunta retórica, que nada demonstra, que nada questiona, que em nada (me) interessa também.

Já eu, gosto muito do ser-que-sente. Do que olha para o outro e vê. Vê se o outro está bem ou se tá na merda. Olhar o outro é uma arte dos humildes, dos que conseguem ver além do seu próprio umbigo. Gente que olha no olho, que abraça e que se permite. Gosto daqueles que demonstram suas fragilidades, que permitem deixar a máscara de lado, que tiram a armadura para se relacionar. Pois para isso é preciso coragem. Muita coragem. Gosto dos que choram. No cinema, na praia, no show, na cama, no chuveiro ou no trabalho também. Gosto dos que riem, alto, de preferência. Porque essas pessoas transbordam, estão vivas e se permitem emocionar com a vida. Se permitem ir contra ao modelo imposto e se permitem ser maiores do que o que é esperado delas. Só o ser-que-sente se conecta com a vida, com as pessoas, com o mundo.

Mas o segredo na verdade é parar de hierarquizar sentimento-pensamento. É não sentir, sem pensar. Nem pensar, sem sentir. É não se permitir afogar por nenhum dos dois. É encontrar o ponto de equilibro e ser ser-que-sentepensa. Reconhece suas fragilidades, se expõe, se protege, segue a sua intuição. É fluido. Se adequa. Se respeita. Planeja, mas não se prende.
É isso. Só que o ser-que-sentepensa pode ser livre.

texto de 24 de junho de 2015 publicado originalmente no facebook.

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Luiza Luka
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Written by Luiza Luka

Mobilizadora do q for preciso, tecelã de redes, taróloga em movimento, facilitadora e questionadora em busca de (se)desenvolver e transformar o mundo..

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