A última sessão de música

Luiza Luka
3 min readAug 7, 2022

Que presente é essa turnê de Milton Nascimento! A última sessão de música se propôe a celebrar os 80 anos do cantor e marcar sua despedida dos palcos. Esse video abre a apresentação, dando uma pincelada nos feitos e nas criações de Milton. Logo depois o vemos no centro do palco, com esse manto criado por Ronaldo Fraga, cercado por uma banda e tanto: piano, cordas, sopro, percussão. Destaque para o Zé Ibarra, que além de abrir o show lindamente ainda acompanha Milton tocando e cantando. Me pareceu que em alguns momentos entra estratégicamente nos agudos, que a voz já cansada do gênio parece não alcançar mais.

Durante todo o show passou na minha cabeça um filme… ouvindo disco em casa, ainda pequena. O álbum da Rita Lee acustico MTV, onde ela falava que queria “deitar e rolar com bituca” numa risada gostosa. Lembrei das estradas de Minas Gerais, que fui e vou sempre com tanto carinho para visitar a família, para encontrar amigos, para ouvir boa música. Consegui ver na minha memória letra de Maria, Maria na minha pasta no coral, sendo a primeira musica que cantei em coro. Lembrei do bar Capitão Gancho, em Itajubá em julho de 2004, onde me despedia de pessoas que mudariam cursos da minha vida, ao som de Encontros e Despedidas. Lembrei de ver muito sentido em Travessia, Coração de Estudante, Caçador de Mim, Canção da América. Lembrei de cantar também em coro musicas como Calix Bento e Cravo e Canela (e que arranjo dificil!). Fiquei feliz ao lembrar de um projeto que fiz parte, tão legal, em homenagem à ele ano passado. Lembrei do álbum do 14bis com o Boca Livre, que minha mãe ouvia repetidamente e uma das primeiras musicas era “bola de meia, bola de gude”. Lembrei da minha mãe dizendo que Milton era um dos seus artistas favoritos.

Olhei para o lado e ela tava ali. Minha Maria. Uma mulher que merece viver e amar, como outra qualquer do planeta. Saímos do show e minha mãe foi me contato, que depois que nasci passou um tempo sem ir em shows e um dos primeiros que conseguiu ir foi Tambores de Minas, do Milton e que ela se acabou de chorar. Como ontem, fomos tocadas por Milton e choramos, as duas.

Acho que ver alguém celebrar o final de um ciclo (ao invés de apenas lamenta-lo), faz a gente rever os nossos, fazer paralelos com as nossas vivências. Fiquei pensando sobre esse processo que é envelhecer, o medo que a gente fica de não viver-tudo-que-tem para viver. Ao memos tempo precisando aprender a aceitar nossos novos limites. Vendo como é potente e bonito poder se despedir de lugares que a gente ama, viver os ciclos por completo, de forma consciente. Lembrei do TEDx “A morte é um dia que vale a pena viver”, que ela fala que o dia da morte é como o ultimo episódio de uma novela: é quando entendemos todos os porquês, onde tudo faz sentido. Ontem foi assim! Ver o Milton em sua Última Sessão de Musica me ajudou a ver sentido em tantas coisas que passei, em tantos encontros que tive. É lindo ver como as musicas dele foram e são trilha sonora da minha trajetória, desde sempre — graças a minha Maria.

Sou grata ao Milton, à sua figura, ao seu exemplo, à sua obra. Chorei de gratidão, de saudades antecipada, de luto.

Em um momento específico a platéia acendeu as luzes dos celulares, balançando no tempo da musica e Milton deu um sorrisinho. Morri de amores. Logo no inicio ele agradeceu por a gente ter feito parte da vida dele. E Milton ainda deu de presente para todos nós uma lembrança: Os sonhos não evelhecem! Enchendo a gente de esperaça, tão necessária nesses dias pré-eleição.

Obrigada, Milton, por tudo. Você é eterno.

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Luiza Luka

Mobilizadora do q for preciso, tecelã de redes, taróloga em movimento, facilitadora e questionadora em busca de (se)desenvolver e transformar o mundo..